Cecília Meireles







Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura brasileira, seus poemas encantam os leitores de todas as idades. Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu nome completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles. Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília começou a escrever suas primeiras poesias.
Formou-se professora (cursou a Escola Normal). Sua formação como professora e interesse pela educação levaram-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador e anti modernista. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência.
Cecília Meireles foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. A maioria de suas obras expressa estados de ânimo, predominando os sentimentos de perda amorosa e solidão.  Com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro “Espectros”. Embora fosse o auge do Modernismo, Cecília aproxima-se das inspirações neo-simbolistas e escreve seus próximos livros, na seqüência: Nunca mais... e Poemas dos poemas de 1923 e Baladas para El-Rei de 1925. São obras que revelam a presença da cultura oriental na sua formação. Nesta época, escreve ainda os poemas do livro Cânticos, que só serão publicados em 1981.
Contudo, sua aclamação como escritora acontece com a obra “Viagem”, inspirada em uma viagem a Portugal em 1934 e publicada em 1938, sendo vencedora do prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras no ano seguinte. Considerado o tom acentuadamente inovador do Modernismo, “Viagem” revela uma renovação equilibrada, situando-se entre a tradição e a modernidade. Além disso, o livro representa o alcance da maturidade literária, pois sua obra assume uma feição própria e singular na poesia brasileira do século XX, justamente devido ao equilíbrio entre o clássico e o moderno, tanto do ponto de vista formal quanto temático.
Outras publicações no âmbito da poesia consagram definitivamente a escritora, destacando-se as seguintes obras: Vaga música (1942), Mar absoluto e outros poemas (1945), Retrato natural (1947), Amor em Leonoret (1951), Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952), Romanceiro da Inconfidência (1953), Canções (1956), Metal rosicler (1960), Poemas escritos na Índia (1962) e Solombra (1963).

Durante suas pesquisas históricas, a poetisa escreve o livro Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, o qual é considerado sua obra-prima e trata do episódio da Inconfidência Mineira.


Em 1964, lança uma coletânea de poemas para crianças, intitulada Ou isto ou aquilo, livro que inaugura uma nova fase da poesia infantil brasileira, tornando-se um clássico da produção poética para a infância. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade (uma das principais características de sua poesia


Cecília Meireles faz muitas viagens ao exterior, entre elas, aos dois países pelos quais tinha muito interesse cultural: Portugal e Índia. O livro Poemas escritos na Índia, publicado em 1962, é resultante de sua viagem a esse país, em 1953, sobre o qual escreveu também um conjunto de crônicas. Nessas publicações, a autora revela a natureza do homem indiano, sua simplicidade e comunhão com a natureza. 


Cecília morre no Rio de Janeiro no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura. Cecília Meireles é homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.


                                        Motivo - Cecília Meireles

ANÁLISE ESTILÍSTICA DE ALGUNS POEMAS DE CECÍLIA MEIRELES

“Motivo” 
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta

Irmão das coisas fugidias;
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou se passo

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada
E um dia sei que estarei mudo:
- Mais nada

Logo que iniciamos a leitura do poema, notamos que é todo elaborado em primeira pessoa, que se refere à subjetividade, ao íntimo, à descrição dos sentimentos. No poema, como um todo, percebemos algumas das principais características da poesia de Cecília Meireles, tais como leveza e a delicadeza com que tematiza a passagem do tempo, a transitoriedade da vida e a fugacidade dos objetos, que parecem intocáveis em seus poemas, com uma linguagem altamente feminina, intuitiva e sensorial, decorrendo assim, um certo tom melancólico dos mesmos.
Percebemos, então, que o poema é uma metáfora que representa a fugacidade da vida e como as pessoas a deixam passar, sem dar o real valor ao que realmente importa, também notamos a existência de um eufemismo nos terceiro e quarto versos da última estrofe, pois se evita a palavra morte, substituindo-a por uma expressão menos desagradável.

 “Criança”

Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, - e resiste.

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto, se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo,
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo,
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.

No primeiro verso da primeira estrofe inicia-se a descrição de um menino de maneira afetiva, porém nota-se que o menino é um ser triste e que possui vida sofrida e solitária. A característica do sofrimento é retomada no segundo verso da segunda estrofe e, por isso, fez com que o menino se tornasse um ser reflexivo sobre a sua vida, a sua existência. Neste momento, lembra-nos a própria Cecília que, desde criança, aprendeu a conviver com a morte (seus pais, seu primeiro marido), a dor, a solidão, o silêncio, o significado da existência, sem traumas, mas de maneira realista, como é dito pela própria poetisa: “...Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenininha, uma tal intimidade com a mote que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno (...)” (CM, LC, pág.1) Podemos pensar que o menino do poema é uma metáfora da própria vida de Cecília quando criança. O título escolhido para esse poema Criança simboliza a imaturidade do ser humano para a vida pós - morte, para qual ninguém nunca está preparado, pois somos inocentes para o que virá, visto que a vida e a felicidade são efêmeras, não se pode voltar atrás. Para isso, devemos conservar a pureza, como a de uma criança.

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